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Dorgival Dantas lamenta Festa Junina adiada: 'Poema mais bonito do mundo não enche barriga'

Publicada em 18/06/20 às 12:44h - 374 visualizações

por G1


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Sanfoneiro e compositor lembra de tocar mais de 12 horas seguidas em festas juninas: 'Eram as leis da época, era como aqueles filmes de faroeste.' Ouça entrevista em podcast.  (Foto: Google)

Dorgival Dantas nasceu em Olho D'Água do Borges, sertão do Rio Grande do Norte, e ainda criança começou a tocar com seu pai, Cícero Dantas, nas fazendas e cidades da região.

Sanfoneiro e compositor de grandes sucessos como "Coração", "Você Não Vale Nada" e "Destá", ele sabe bem do impacto da não realização das festas juninas para quem depende delas.

"Rapaz, isso é mais ou menos como um pesadelo, um sonho ruim. Nesse momento são pessoas que não precisam só de uma palavra bonita, de um poema. O poema mais bonito do mundo não enche uma barriga”.

Ele diz que a preparação para o São João começa cedo e é muito esperada pelas pessoas.

"Todos os anos quem mexe com isso, seja tocando, vendendo ou fazendo qualquer coisa, se programa o ano inteiro", explica. "São poucos dias de felicidade e quando passam, deixam um trocadinho, mas depois pensam 'vamos se preparar porque o próximo ano vai vir'".

Dessa vez, não veio.  As festas de São João de Caruaru foram canceladas em 2020 e as de Campina Grande foram adiadas para outubro por conta da pandemia do novo coronavírus.

São João no sertão

Dorgival tem várias passagens pelas grandes e tradicionais festas juninas do nordeste, mas gosta mesmo é de lembrar quando tocava com o pai, Cícero Dantas, a partir dos 13 anos.

Sem muita estrutura, o forró começava com caixas de som improvisadas e terminavam no "seco". "Só voz e sanfona mesmo puro e ninguém reclamava. A gente podia começar nessa época 19h mais ou menos e ia até 7, 8, 9, 10h da manhã", lembra Dorgival.

Os longos shows aconteciam por conta da animação do público, mas também existia o fator do medo em alguns lugares.

"Às vezes a gente ia tocar em um cantinho que a gente sabia que tinha que chegar calado e sair mudo, aí que a gente tocava mesmo. Não tinha esse negócio de intervalo", diz.

"Naquela época no sertão, às vezes tinha um 'cabra' valente na região. Se você parasse era possível dizer: 'Parou por quê?'. Ah rapaz... Vamos tocar agora mesmo, até quem pode mandar se cansar e falar : 'Pronto. Agora pode ir pra casa. Tinha suas leis, eram as leis da época, era como aqueles filmes de faroeste."

Ele fica nesse mês de junho cheio de saudade: "Quando eu olho para a sanfona, eu vejo meu pai, sinto meu São João. Eu volto ao passado sem sair do presente", conta.

Mistura de gêneros no São João

O saudosismo de Dorgival também é justificado pelo cenário musical das décadas de 80 e 90, em que ele ouvia Luiz Gonzaga tocado no rádio enquanto tomava café.

"Vamos supor que tenha um programa duas horas hoje, talvez não se toque mais nem um forró de antigamente e talvez o que mais prevaleça sejam outras canções. Eu não gosto muito disso", confessa.

A discussão da entrada de outros gêneros nas festas de São João, como o sertanejo e o eletrônico, não é nova entre os forrozeiros.

"Eu sempre dizia uma coisa eu jamais vou torcer, pedir ou lutar contra que venha alguém de outra região, de outro estilo tocar. Agora lamento o forró não ter essa oportunidade lá fora em outros eventos sem ser só de forró", diz.

Pioneiro em lives?

Com os shows cancelados, os artistas precisaram se reinventar e as lives surgiram como forma de entreter o público e também de manter os patrocínios em dia.

Para Dorgival, no entanto, o ato de ligar uma câmera de casa e cantar para o público na internet não é novo.

"Eu botava a minha sanfona em cima de uma cadeira e dizia 'quando chegar a 5 mil eu começo a tocar ao vivo'. Ninguém fez isso, foi só Dorgival", diz e ri ao lembrar de 2011 e 2012.

"Eu botei quatro hashtags em uma live só nos trends, aí veio o Justin Bieber para o Brasil e botou duas. Eu digo 'Um fio da égua desse botou duas, eu botei quatro e ninguém diz nada?'"

Dorgival fez uma live no Dia dos Namorados, tem outra marcada para sexta (19) e também vai participar do São João com Wesley Safadão, Luan Santana e Saia Rodada no próximo sábado (20).

Ele diz que sai de casa com medo, mas entende que a música pode ajudar as pessoas durante a pandemia. "Eu vou só me apegando com Deus e saio."

"Mesmo não sendo cardiologista, acredito que minha sanfona, minha música e meu trabalho conseguem fazer bem para muitos corações. É muito bom saber que você consegue fazer o bem para as pessoas".




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